3. O Cão Vizinho e a Minha Paciência (Pouca)
- Lara Alves
- 16 de mai.
- 3 min de leitura
Rodrigo: O Cão Que Acha Que Somos Amigos (Spoiler: Não Somos)
O universo tem uma forma cruel de testar a minha sanidade. Chama-se Rodrigo. Um labrador cor de manteiga rançosa, com olhos de cachorrinho abandonado e um rabo que abana como se estivesse a tentar descolar.

A primeira vez que o vi, estava a cheirar um poste de eletricidade como se fosse a Mona Lisa.
— SALSICHAAAA! — ladrou, avançando para mim como um trator desgovernado.
— Chiu, cão. Nem sabes pronunciar o meu nome — rosnou a minha alma, enquanto me refugiava no muro mais alto que encontrei.
Os humanos, é claro, acharam "fofíssimo".
A Filosofia de um Cão (Ou: A Ausência Total Dela)
Rodrigo tem a profundidade intelectual de uma tigela de água. Eis os seus interesses:
1. Bolas. Qualquer objeto redondo é, para ele, motivo de êxtase.
2. Cheirar traseiros de outros cães. (Ainda bem que os humanos não percebem que isso é o equivalente canino de ler o jornal.)
3. Eu.
Sim, eu. O Rodrigo decidiu, num acesso de loucura canina, que somos "melhores amigos".
— Salsicha, ele só quer brincar! — diz a Lara, enquanto o cão se baba todo a olhar para mim.
Brincar? Se eu quisesse brincar com algo sem cérebro, comprava um espelho.
A Arte de Destruir um Cão em 3 Frases
Um dia, cansei-me. Encontrei o Rodrigo a rolar num canteiro de flores, feliz como um pardal numa banheira. Decidi educá-lo:
1. Frase 1: "Rodrigo, o teu hálito cheira a ração de desconto e desespero."
2. Frase 2: "Se abanares o rabo mais rápido, talvez ganhes impulso para voar até à lua. Vai lá."
3. Frase 3: "A tua existência é um argumento forte contra a democracia."
Ele tilintou a coleira, inclinou a cabeça, e… abanou o rabo mais rápido.
Deus, dai-me paciência. Ou melhor: dá-me veneno.
O Incidente do Osso de Borracha (Ou: Como Quase Causei um Ataque Cardíaco ao Álvaro)
Os humanos compraram ao Rodrigo um osso de borracha que guinchava. Um som tão irritante que até as moscas fugiam.
O cão, é claro, adorou. Trouxe-o para o meu jardim (sim, meu jardim) e depositou-o aos meus pés, orgulhoso.
— Olha, Salsicha! Trouxe-te um presente! — ladrou, com a expressão de quem acha que merece um Nobel.
Cheirei o osso. Plástico. Saliva canina. Vergonha alheia.
Empurrei-o para um charco com a pata.
— ÁLVARO! A SALSICHA ESTÁ A BRINCAR COM O RODRIGO! — gritou a Lara, emocionada.
O homem correu para a janela. Eu, a brincar? Por pouco não caí do muro de tanto rir.
O Dia em Que o Rodrigo Me Salvou (Mas Eu Nunca Vou Admitir)
Detesto dizer isto, mas… o Rodrigo tem os seus momentos.
Um dia, um gato vadio (um intruso no meu território) apareceu a desafiar-me. Era maior, mais mal-encarado, e cheirava a lutas de rua.
Pronta para a batalha, posicionei-me… quando, de repente, o Rodrigo apareceu a ladrar como um louco.
— VAI-TE EMBORA, SEU MALANDRO! ESTA É A MINHA AMIGA SALSICHA! — grunhiu e avançou como um bulldozer.
O gato fugiu. Eu fiquei paralisada. O Rodrigo… defendeu-me?
— Obrigada — murmurei, relutante.
— DE NADA! QUERES BRINCAR COM O MEU OSSO? — respondeu a abanar o rabo.
E pronto. Arruinou o momento.

A Moral Que Vou Levar Para o Túmulo (Mas Só Se Morrer Hoje)
A vida ensina-nos coisas estranhas. Por exemplo:
- Cães são irritantes, mas úteis para afastar inimigos.
- Humanos acham que tudo é "amizade", mesmo quando é puro cálculo estratégico.
- Eu… talvez, só talvez, não odeie o Rodrigo.
Mas se contarem a alguém, nego tudo.
Próximo Capítulo: "Capítulo 4: A Guerra Contra o Aspirador (e Outros Monstros Eletrodomésticos)"
Onde a Dona Rosa descobre que o verdadeiro inimigo não tem bigodes, mas sim um cabo de eletricidade e um ronco ensurdecedor.
😼 Nota da Autora: A Dona Rosa insiste que este capítulo é "ficção pura" e que nunca, em hipótese alguma, sentiu gratidão por um cão. Acreditem nela. (Ou não.)



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