2. A Grande Questão do Caixote (e a Estupidez Humana)
- Lara Alves
- 16 de mai.
- 3 min de leitura
Presentes Humanos: Uma Oportunidade para Insultar a Minha Inteligência
Os humanos adoram dar presentes inúteis. Flores que morrem em três dias. Meias com padrões de renas. E, claro, o caixote de areia.
Um belo dia, chegaram a casa com uma caixa gigante, a sorrir como se tivessem descoberto a roda.
— Olha, Salsicha, comprámos uma surpresa para ti! — anunciou a Lara, orgulhosa como uma criança que desenhou um círculo perfeito.
Cheirei o ar. Plástico. Areia sintética. E o cheiro doce de ignorância.
Quando montaram o caixote cor-de-rosa choque, quase cuspi o meu jantar.
— Isto é uma piada? — pensei, a olhar para aquele monte de cor berrante. Parece algo que um unicórnio vomitou.

A Primeira (e última) Vez Que Usei o Caixote
Decidi dar-lhes uma chance. Afinal, talvez a areia fosse de uma qualidade digna da minha realeza.
Entrei. Cheirei. Meu Deus. Era como tentar cagar num spa de plástico reciclado.
Fiz o que tinha de fazer, mas com dignidade. Cobri os meus dejetos com cuidado, como uma artista a assinar uma obra-prima. Depois, saí e olhei para eles e esperei aplausos.
— Ela usou o caixote! — gritou o Álvaro, como se eu tivesse resolvido a teoria das cordas.
Claro que usei, seu palerma. Agora tragam-me um biscoito de gato.
A Revolução Começa no Tapete da Casa de Banho
Mas os humanos têm a memória de um peixinho dourado. No dia seguinte, esqueceram-se de limpar o caixote.
Inaceitável.
Decidi lembrá-los de quem manda aqui. Fui até ao tapete da casa de banho, aquele fofo e branquinho que a Lara adora, e deixei-lhes um presentinho.
Quando a vi entrar, aos gritos, senti-me como um revolucionário a derrubar uma ditadura.
— ÁLVAROOOOOOO! Ela fez cocó fora do caixote!
O homem apareceu. Segurava uma pá de plástico como se fosse uma arma.
— Salsicha, isso não se faz!
Oh, Álvaro. Achas que me importo com a tua pá?
Bocejei e saí da sala, deixei-os a discutir sobre "métodos de treino".
A Sabedoria Felina vs. A Teimosia Humana
A guerra durou semanas. Eles tentaram de tudo:
1. Mudar a areia. (Resultado: Continuei a cagar no tapete.)
2. Colocar o caixote na varanda. (Resultado: Caguei no sofá.)
3. Comprar um caixote "automático" que faz barulhos de nave espacial. (Resultado: Caguei EM CIMA do caixote, para mostrar desprezo pela tecnologia.)
No final, a Lara chorou. O Álvaro ameaçou chamar um "especialista em comportamento animal".
Especialista? Eu sou a única especialista aqui.
A Rendição Humana (Ou: Como Ganhei o Direito de Cagar Onde Quiser)
Um dia, cansada da guerra, decidi dar-lhes uma trégua. Usei o caixote.
— OLHA, ÁLVARO! ELA FEZ NA AREIA! — a Lara abraçou o homem, emocionada.
Claro que fiz. Porque hoje acordei magnânima.
Mas deixei claro que não era um hábito. Às vezes, usava o caixote. Outras vezes, o tapete. Ou o canto da cozinha. Mantive-os sempre em suspense.
Afinal, um gato sem mistério é como um cão sem coleira: ordinário.
A Moral Escondida (Que Eles Nunca Vão Entender)
No fundo, esta história não é sobre caixotes. É sobre respeito.
Os humanos querem que nos adaptemos às regras deles, sem nunca perguntar: "O que é que a Salsicha quer?"
Quero liberdade. Escolha. E, acima de tudo, o direito de deixar uma surpresa no tapete quando me apetecer.
Mas, vá. Às vezes uso o caixote. Só para os ver sorrir.

Próximo Capítulo: "Capítulo 3: O Cão Vizinho e a Minha Paciência (Pouca)"
Onde a Dona Rosa enfrenta o labrador Rodrigo, descobre o segredo do seu hálito, e questiona se os humanos alguma vez ouviram a palavra "inimigo".
😼 Dica da Autora: Nunca subestimes uma gata com tédio e acesso a um cão idiota.



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